quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DESORDEM URBANA

A melhoria da qualidade de vida, a elevação dos padrões sociais, as facilidades da era tecnológica e até a cura para muitos males são promessas que a modernidade faz e que todos queremos. É preciso saber, entretanto, que o progresso traz, também, novas doenças, novos problemas que não tínhamos antes desta era que parece tão espetacular. São brilhantes as novas descobertas e fantástico o que homem pode conseguir por meio da sua inteligência. Então, por que o homem não consegue resolver problemas tão simples, como a erradicação da malária ou mesmo o caos no trânsito das grandes cidades?

Digo isso porque vi estarrecido o desabamento do prédio da Rua Três de Maio. Como isso ainda pode acontecer, em plena era da precisão milimétrica dos computadores e a facilidade com que tudo se consegue para a promoção de nossas façanhas? Sinceramente, pensei que jamais veríamos a tragédia do Edifício Raimundo Farias se repetir em pouco mais de duas décadas. Isso é avassalador. Especialistas dizem que ainda é muito cedo para o diagnóstico final. O que eu sei, como o restante da população, é que um edifício de mais de 30 andares não resolve cair por birra. O prédio não tem personalidade, nem é malvado. Algumas ou muitas regras devem ter sido quebradas para que ele se transformasse, em segundos, em um amontoado de pó e levasse com ele vidas tão preciosas. Nós não podemos achar que isso é apenas o destino. É necessário o entendimento das autoridades com as instituições competentes para um reordenamento urbano de Belém e que as regras e leis sejam seguidas de forma rígida. A população deve conhecer – até para poder cobrar das autoridades – quais são essas leis ou qual o gabarito para a construção dos prédios em todos os bairros. A construção civil em Belém vai muito bem e garante emprego para milhares de famílias. Mas o preço disso é muito alto. A vida em Belém está desconfortante e parece que ninguém se importa com nada. O trânsito é um dos resultados disso. Na Avenida Conselheiro Furtado, quase esquina da Avenida Alcindo Cacela, novas torres estão sendo construídas. As famílias que vão morar ali, de certo logo sofrerão os efeitos: horas em fila de congestionamentos e atrasos de toda sorte. Belém está impraticável em termos de qualidade de vida, porque pelos menos nos últimos 16 anos, as administrações municipais pouco - pra não dizer nada - fizeram para melhorar a infraestrutura. As construções, as torres, os grandes conjuntos habitacionais devem ser seguidos - ao mesmo tempo - da construção de novas vias de escoamento do tráfego, do saneamento básico e do tratamento de esgoto. Enfim, a prefeitura da cidade deve preparar um bairro onde vai haver muita atividade habitacional. O setor de construções deve se preocupar também com a harmonia na arquitetura da cidade. Muitos prédios e casas, no centro de Belém, por exemplo, estão em estado deplorável de abandono. Quando vão ao chão erguem-se horrorosos espigões em seus terrenos.

Belém também perdeu vários corredores de ventilação e a altura dos novos prédios tem que ser revista pelo poder público, em conjunto com as universidades e entidades do setor, sob pena da nossa cidade se transformar num fogareiro. O trânsito não pode piorar mais. Por outro lado, o Estado tem que repensar seu crescimento a partir dos municípios, principalmente os emergentes. A distribuição do progresso é urgente. Belém não suporta mais construções desordenadas. Municípios em crescimento precisam de atenção, desde agora, com o seu desenvolvimento urbano, adequado à nova consciência de que é preciso equilibrar progresso e meio ambiente. Assim, surgiriam novas e belas cidades, ordenadas e pensadas para que o homem possa viver melhor. Estados como São Paulo podem oferecer aos cidadãos, opções de deslocamentos, porque possui muitos municípios que oferecem boa qualidade de vida tanto quanto a capital. Como o Pará - no bolo da União - não possui um orçamento razoável, não se pode escolher uma outra cidade para morar com a mesma infraestrutura que Belém. Então, ficamos todos aqui, num amontoado de automóveis, buzinas, falta de luz, água e muito estresse, sem ter a quem apelar.

Quanto ao desabamento, além do meu profundo pesar pelas vidas que se perderam – e seja qual for o laudo dos especialistas sobre o porquê do acidente – eu espero que jamais Belém registre em sua história outra tragédia igual.

JADER BARBALHO


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*Publicado na edição de 06 de fevereiro de 2011, do jornal Diário do Pará.

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