segunda-feira, 21 de novembro de 2011

MÁ EDUCAÇÃO

MÁ EDUCAÇÃO

20 de novembro de 2011

Avassaladores são os dados publicados pelo Ministério da Educação sobre a qualidade do ensino superior no país. Dos 4.143 mil cursos avaliados em 2010 pelo Exame Nacional de Desempenho de Estudantes, o Enade, quase 600 não conseguiram resultado satisfatório, e 1.115 ficaram sem conceito. Só 58 cursos tiveram conceito de excelência. A avaliação, que vai de 1 a 5, segue os critérios do resultado do Enade, o conjunto dos professores e o projeto pedagógico. O resultado foi fartamente comentado pela mídia, debatido e criticado por docentes que veem no MEC o principal responsável pela má qualidade do ensino superior porque este assunto já se arrasta por anos: o total das instituições reprovadas é de 683. Dessas, 226 foram reprovadas pela 4ª vez consecutiva.



Apesar de o governo federal ter anunciado que vai supervisionar as piores escolas, com punição de fechamento, se for o caso, e ainda cortar 50 mil vagas de vestibulares ofertadas principalmente nos cursos de saúde, administração e ciências contábeis, pesquisadores dizem que nada disso resolve a delicada situação da educação. A facilidade para se abrir uma faculdade em qualquer esquina do país, em qualquer espaço e com qualidade duvidosa, é a mesma que se tem para abrir uma quitanda de frutas. Há muito tempo, sabe-se que as universidades que estão alastradas no Brasil contratam professores com mestrado ou doutorado, que recebem salários apenas para “emprestar” nomes para uma exigência do MEC. A ideia que tínhamos de uma faculdade, ou do rigor de seus professores, qualificados e preocupados com a formação do profissional, acabou. Hoje, por uma quantia acessível ou até, quem sabe, uma bolsa educacional, o cidadão consegue o nível superior exigido nas empresas ou em concursos.



Há algumas boas surpresas: das 158 instituições com melhor desempenho, 81 são públicas e 77 são privadas. A Unicamp é a melhor universidade do Brasil, apesar da USP não ter participado da avaliação. Dos estabelecimentos com grau insatisfatório, 640 são privados e 43 públicos.



No Pará, das 31 instituições avaliadas, apenas metade conseguiu o grau satisfatório, mas nenhuma conseguiu a nota máxima.



Assisti pela televisão a um debate entre professores qualificados que questionaram e criticaram as ações que o MEC deve tomar em relação às instituições sem qualidade. Os professores disseram que a educação virou um grande negócio e que o governo não se preocupa o bastante para colocar um fim na situação. O aluno representa dinheiro. A oferta de vagas e as facilidades devem ser fiscalizadas com rigor pelo governo. Não podemos mais colocar profissionais sem preparo num país que precisa evoluir e melhorar seus índices sociais. As universidades devem ser um centro de formação profissional com garantia de qualidade tanto na grade curricular obrigatória quanto na preparação do jovem que vai enfrentar uma realidade cruel e desigual. Todos querem ser atendidos por bons profissionais e melhores seres humanos. As escolas superiores têm que estar comprometidas com a evolução do mundo. Imagine o dano que uma formação universitária ruim pode causar à sociedade e ao indivíduo? É só olhar em volta e conferir o descaso, a incompetência e a insensibilidade espalhados por todo canto.



Comentários de alunos sobre a falta de confiança que a sociedade tem no Ministério da Educação, não são dos melhores. As seguidas trapalhadas nas provas do Enem, a ineficácia das medidas, ou ainda a inércia dos órgãos educacionais em relação à educação, principalmente no que se refere a investimentos consideráveis, têm levado o Ministério e o próprio governo federal ao caminho do descrédito. Todos os anos é a mesma coisa. As coisas estão ruins, vão melhorar no ano que vem. O importante é continuar sendo a 7ª economia do mundo, embora o Brasil tenha bons resultados em apenas 8% das suas instituições de ensino. Já está comprovado que nenhum país consegue evoluir sem investir em educação. E educação de qualidade. China, Índia e Coréia do Sul, entre outros, exibem hoje patamares elevados de desenvolvimento, como oferta de emprego e melhora na qualidade de vida, depois de eleger a educação como prioridade.



Jader Barbalho

*Texto originalmente publicado no Jornal Diário do Pará no dia 20 de Novembro de 2011.

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