Os noticiários dessa semana foram violentos demais. Não deu para deixar para lá e seguir em frente. Os meios de comunicação do Pará registraram uma alta na taxa de criminalidade, surpreendente até para os mais acostumados com esse cotidiano. Assassinatos e assaltos ocorreram em casas, nos bancos, supermercados, praças, na periferia e no centro de Belém, em municípios pacatos e até em embarcações. Nossos rios estão se transformando em vias perigosas para a população que não tem outro meio de transporte em muitas regiões.
Para mim, esse aumento da violência é um dado preocupante e me parece reflexo de uma realidade moderna, avançada que marginaliza e coloca em situação degradante tantos pobres. Não dá para entender os números. O governo diz que tirou da miséria milhões de brasileiros, e todos nós pensamos que o olho da violência está nos bolsões de miséria. Assim, eliminando a pobreza, a violência diminuiria. Não é o que está acontecendo. A criminalidade está acelerada em todo o Brasil e também entre nós – não só em Belém, mas também no meio rural. Forças federais estão no Estado para ajudar no combate à violência no campo. Não tenho conhecimento de estudos dos pesquisadores especialistas na área social, mas acredito que todos gostariam de ter resposta sobre o que está acontecendo. Se o governo diz que a qualidade de vida do nosso povo hoje é melhor, por que tem crescido tanto a criminalidade? Existe manipulação desses dados? Estão encobertos, disfarçados ou mal interpretados?
No meu entendimento, toda essa modernidade, todos os equipamentos ultramodernos colocados à disposição da população por um preço acessível, se dividido nas eternas prestações, levam todo tipo de informação às classes menos favorecidas. Aparelhos de tevê de última geração transmitem imagens do conforto e bem-estar que existem no mundo afora. Isso é assistido em barracos miseráveis. É um choque cultural. Há um estímulo ao consumo desmedido e nós não sabemos como fica a cabeça de um jovem muito pobre, por exemplo, quando olha ao seu redor e tudo é muito diferente, porque lhe faltam roupas, sapatos, comida e um lar equilibrado. Então, aí temos a sociedade de contraste, cujo debate ultrapassa os limites do governo, e que está muito além da própria educação formal da escola. A sociedade inteira precisa discutir e absorver a sua reeducação social que aponta para novos conceitos de convivência fraterna e de tolerância. Nós não desejamos esse tipo de sociedade moderna, inovadora, de primeiro mundo, que convive com a miséria que leva à violência galopante, cada vez pior, e que obriga o grupo que tem mais poder aquisitivo a se isolar em conjuntos habitacionais cercados de segurança dentro das cidades, mas que depois de seus muros, estão as populações mais pobres, miseráveis, sem o básico. Os mais ricos devem se preocupar muito mais com isso porque não adianta tanta sofisticação e riqueza se isso não pode ser usufruído. Esse choque social, que precisa de estudos urgentes, atinge a todos. A violenta realidade impede – pobres e ricos – de usufruir as praças, de ir ao banco sacar dinheiro, de viajar de barco, de ir a festas, ou mesmo de andar pelas ruas. A sociedade moderna tem que romper com esse quadro. O que todos queremos é uma sociedade humana e justa, porque o caminho do homem não é o isolamento e sim a incorporação de todos os segmentos nas melhorias do mundo.
No meio disso tudo, entretanto, existem milhares de exemplos espalhados pelo Brasil de homens, mulheres, jovens e crianças que, apesar de viverem em ambientes hostis, de extrema miséria, na rua, no abandono, sem nenhuma estrutura social, e que todas as probabilidades indicam que o caminho a seguir seja o do crime, o da contravenção ou das drogas, essas pessoas, esses heróis conseguem furar, quebrar todos os bloqueios e se tornam exemplos de sucesso de vida. Nem sempre isso significa riqueza, mas felicidade, bem-estar. Isso precisa ser proclamado, dito muitas vezes, porque esses cidadãos são grandes exemplos. Talvez isso seja exceção, talvez não, pois não há estudos sobre o assunto. Mas a minha constatação é de que a maioria dos pobres é esmagada pela cruel realidade da falta de oportunidade de trabalho, educação, saúde e tudo mais.
É claro que todo tipo de ação que o governo faça para diminuir a violência é necessário. Mas enquanto não houver estudos, debates e o envolvimento de toda a sociedade, nós não vamos acabar com esse terrível cotidiano.
JADER BARBALHO
*Texto originalmente publicado no jornal Diário do Pará no dia 12 de Junho de 2011.
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