P: O senhor foi escolhido candidato por meio de prévias. Como está o PT após esse processo?
R: Inicialmente, tivemos seis candidatos no primeiro turno. No segundo turno, ficamos dois: eu e o deputado Cláudio Puty. Ao longo do processo, fizemos oito debates. Fui eleito e, partir daí, os militantes da campanha do Puty se juntaram a nós. Já havia entendimento de que quem ganhasse teria apoio.
P: O fato de ter havido seis candidatos nas prévias é sinal de uma divisão no partido?
R: Como o PT tem várias posições diferentes internamente, as chamadas tendências, as prévias foram um momento em que elas se manifestaram, colocaram ideias, marcaram suas diferenças. Todos concordavam que o PT tinha que debater nos bairros, nos distritos, para oxigenar a militância que tinha saído de uma derrota política e eleitoral (nas eleições estaduais, a candidata petista ao governo Ana Júlia Carepa foi derrotada pelo tucano Simão Jatene). A gente precisava dialogar com a militância, até porque havia o boato de que o partido não teria candidatura própria.
P: Os boatos continuam?
R: Sim, mas prévias vieram para resgatar esse sonho de o PT voltar a governar a cidade de Belém. Foi um debate surpreendente e, a partir da vitória nas prévias, passamos a dialogar sobre o programa de governo. Já tivemos debates em quatro distritos e estamos fechando datas para irmos aos demais. Estamos voltando com o debate da construção coletiva do programa de governo, que é para mostrar que estamos fazendo realmente um processo democrático e coletivo. Essa foi uma promessa que fizemos durante as prévias: voltar a ouvir a militância e a população em geral para fazer essa construção do programa.
P: Continuam os boatos de que a sua candidatura não é para valer e de que, no final, o senhor apareceria de vice em outra chapa. Isso pode ocorrer ainda?
R: Não existe a possibilidade de não termos a candidatura própria do PT. Veja, eu sou o único pré-candidato até agora escolhido por uma militância. Não tenho conhecimento de que outro partido tenha feito isso. Não fui escolhido pelo deputado x, pelo presidente y. Fui escolhido pela ampla maioria da militância do PT, que agora em junho vai homologar essa decisão das prévias durante nosso encontro municipal, onde vamos discutir também as estratégias e táticas eleitorais.
P: Então não há chance de desistência?
R: Nenhuma. O PT tem, segundo pesquisas, 32% de preferência dos eleitores de Belém. É o primeiro partido em preferência popular. A pesidenta Dilma Rousseff tem mais de 80% de aprovação em Belém. Um partido desse não pode abrir mão de ter candidatura. Agora é verdade que nesse leque de várias candidaturas, todo mundo conversa com todo mundo. E o PT como é o partido da “presidenta”, dialoga com os partidos da base no governo federal. A gente tem conversado com PCdoB, PSB, PDT, PMDB, PRB.
P: Que direção têm seguido essas conversas?
R: No sentido de ver se esses partidos fazem aliança com o PT. Estamos dialogando para fazer uma chapa com o PCdoB, PDT, PRB e PV. Esses são os partidos com que estamos conversando.
P: Essas conversas giram em torno e um nome para ser o vice?
R: Em torno do nome do vice e também da composição como um todo. Essas conversas têm sido em nível de Belém, mas o PT estadual também dialoga com mais partidos para ver como vai ser em Altamira, Marabá, Ananindeua.
P: O PT chegou a cogitar ser o vice em uma chapa com o PMDB, como chegou a ser ventilado na época das prévias?
R: Não. Isso foi superado.
P: Durante as prévias, alguns grupos do PT diziam que a sua vitória significaria uma derrota petista, porque o seu nome era o mais palatável a outras legendas, e que havia a possibilidade de o senhor desistir da candidatura...
R: Eu tenho um perfil que difere de muita gente do PT e de outros partidos. Eu venho de origem humilde. Sou ribeirinho. Nasci dentro de um barco vindo do Acará. Meu cordão umbilical foi cortado com a faca do barco na baía do Guajará. Até os 13 anos, fui ribeirinho na essência da palavra, de morar na beira do rio de verdade. Filho de pai e mãe desempregados, só estudei em escola pública no bairro do Jurunas, onde minha família dirigia a luta pelo direito de morar. Então, eu sou uma pessoa vencedora. Hoje sou professor da universidade, sou professor de cursinho. Fui vereador por três mandatos consecutivos. Agora sou deputado estadual e fui eleito pela maioria do PT para ser candidato a prefeito do maior partido de esquerda da América Latina. Partido da “presidenta” Dilma e do Lula. Não é pouca coisa. Agora há outros que têm história de luta, mas que não nasceram igual a mim. Tem muita gente que está na política porque nasceu em berço de ouro. Que veio de cima para baixo. A minha construção é diferente. Mesmo assim, tenho um bom relacionamento com todo mundo.
P: Isso ajudou a vencer as prévias?
R: Acho que isso foi determinante porque a maioria dos grupos no PT já me apoiavam no primeiro turno. Tive apoio de petistas históricos, de fundadores do PT.
P: Apesar dessa sua história no PT e dos três mandatos de vereador, seu nome ainda é pouco conhecido e, neste momento, o PT também enfrenta uma baixa por causa da má avaliação do último governo estadual. Juntando esses dois fatores, o senhor acha que tem chances?
R: Eu fui apenas vereador e agora sou deputado e os demais nomes colocados já foram prefeito, candidato a prefeito. Quem é candidato a uma eleição majoritária sempre fica mais conhecido. O que os analistas esquecem é que o PT é um projeto coletivo. O PT é o exemplo da Maria do Carmo (candidata ao governo do Pará em 2006), é o exemplo da Dilma. Todo mundo lembra da Dilma como era, e olha que ela nem era um nome histórico do partido.
P: Mas a candidatura Dilma vinha respaldada por um governo altamente popular, que foi o segundo mandato do presidente Lula...
R: Mas o PT tem esse histórico de recuperação. Veja que a Ana Júlia perdeu a Prefeitura de Belém em 2004 e depois venceu a disputa pelo governo. Eu acredito na força da militância.
P: O senhor acha que a militância ainda faz diferença?
R: Faz sim. A militância toda empenhada vai nos colocar no segundo turno.
P: E há motivação? Depois da derrota nas eleições estaduais não houve certo desânimo?
R: O ânimo foi recuperado nas prévias. Pela primeira vez em Belém, a militância escolheu o candidato. Nenhum outro candidato em Belém havia sido escolhido em prévia. Isso faz com que a militância assuma a campanha porque foi ela que escolheu. Por isso estamos dialogando também para o programa de governo. Estamos fazendo um processo bastante diferenciado.
P: Como a má avaliação do governo do PT pode impactar em sua campanha?
R: Olha, o povo do Pará já está sentindo saudades da Ana (ex-governadora Ana Júlia Carepa). Facilmente o ex sempre vai ser lembrado quando o atual não corresponde e isso não vale apenas para a política. Então do jeito que vai o governo Jatene, não vai demorar muito para Ana Júlia estar muito bem lembrada de novo. A rejeição já está diminuindo. E não podemos esquecer que houve muitos pontos positivos no governo, inclusive em Belém. Veja o Ação Metrópole. Quem tirou do papel? Esse era um projeto que o PSDB já vinha falando desde quando o Almir Gabriel foi governador pela primeira vez. Foi Ana Júlia que tirou o projeto do papel fazendo o elevado Daniel Berg e a avenida Centenário. Então intervenção viária na mobilidade urbana quem fez foi o governo do PT. E essa grande obra que o governo do Estado está anunciado, será feita com recursos do governo federal.
P: Um dos problemas do governo Ana Júlia foi a disputa entre tendências. Como senhor espera evitar isso, caso eleito?
R: Vamos governar com todas as forças do PT. Pode ter certeza: não haverá problema.
P: Mas sempre tem uma disputa por espaço. Não é difícil conciliar tantos interesses?
R: Mas nós vamos tentar conciliar, chamando todos para governar juntos. Não vai ter hegemonia de uma tendência. E vamos buscar os partidos aliados, os movimentos sociais. Vamos fazer uma gestão democrática e com participação popular.
P: A ex-governadora Ana Júlia vai participar da campanha?
R: Todo o PT. A ex-governadora, os deputados estaduais e federais, a bancada de vereadores e a força da militância. O PT é assim. Tem divergências antes de definir, mas depois que define, todos ficam unidos.
P: A última administração do PT foi do hoje deputado estadual Edmilson Rodrigues, que agora está no PSol e é bem avaliado pelo que indicam as pesquisas. O senhor acha que o eleitorado do PT pode se dividir? Edmilson é a maior ameaça à sua candidatura?
R: Parte da população ainda acha que o Edmilson é o candidato do PT. Quando começarem os programas eleitorais e a população ficar sabendo que o candidato do PT sou eu, que fui escolhido pela militância, uma parcela de voto vai migrar da candidatura do Edmilson para a nossa. Ele é um candidato forte, eu respeito, mas confio na militância.
P: Há risco de a militância se dividir entre vocês?
R: Em minha opinião, não há esse risco.
P: A presidente Dilma vai ter vários candidatos da base aliada em Belém. O que senhor espera dela em relação ao PT?
R: Eu acho que ela não vem aqui para a campanha, mas sei que o Lula virá. O PT nacional está anunciando que o Lula vai viajar para apoiar os candidatados do partido. Acho que para a Dilma pode ficar embaraçoso. A esperança nossa é o Lula e os ministros do PT.
P: Quais, em sua opinião, devem ser os principais temas da campanha?
R: O trânsito e a saúde devem ser os principais, mas temos que debater a cidade para o futuro. Estamos discutindo planejamento que inclua mobilidade urbana regularização fundiária, plano diretor urbano, plano diretor de transporte. A cidade não foi planejada.
P: O senhor aceitaria apoio do atual prefeito Duciomar Costa?
R: No segundo turno vai ser outra eleição. Aí vamos ver como ficam as forças. O PTB, partido do prefeito apoia a Dilma, apoiou Lula e Ana Júlia. Então no segundo turno, dependendo do cenário, é possível haver um diálogo. Como costuma dizer o Lula, não vamos pedir atestado de ideologia para quem quiser nos apoiar. Vamos fazer um projeto para Belém e vamos convidar a todos que queiram se somar à transformação da cidade de Belém.
P: Como vai sua campanha?
R: Não vamos agredir ninguém. Vamos mostrar propostas e o que o PT pretende fazer. Vamos mostrar também nossa relação direta com o governo federal. Queremos governar Belém em link com os programas federais. Quase todas as políticas públicas são verticalizadas. O recurso é federal, mas quem administra é a prefeitura.
Diário do Pará.
acredito que o prof Alfredo Costa é o melhor candidato a PMB.
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